terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um sonho, um sonho

Assaltado e sequestrado por figuras estranhas fui levado ao cativeiro.
Juro, me trataram muito bem! O cativeiro não sei bem o que era ou como era. Não sei sequer como conseguiram acertar, mas era tudo muito familiar. Era uma sala ampla a perder de vista.
Havia duas televisões onde só passavam os filmes que eu já tinha visto e, como protagonista, sempre o mesmo ator, que também era demasiado familiar.
Frente a frente, uma a minha esquerda e outra a minha direita, duas caixas de som nas quais ora reproduziam-se os sons dos filmes exibidos nas televisões, ora reproduziam vozes pronunciando frases desconexas de sentido. Eram, porém, sons também familiares como a voz dos meus pais, de alguns amigos e o mais assustador, por vezes jurava escutar minha própria voz...
Olhando todo aquele amplo espaço em volta de mim descobri uma porta entre-aberta. Hesitante em ser repreendido por meus sequestradores caminhei timidamente até a porta. Eram uma luz forte e um som embaralhado como pássaros ao cair da tarde que quanto mais próximo da porta mais forte ficava. Amedrontado, recuei! Os sequestradores podiam entrar na sala a quaquer momento e a situação piorar para mim. Fiquei com a televisão.
A curiosidade maior que tudo me fez ver uma criança botando a cabeça pra fora da porta e me observando. Quando mirei a porta a criança recolheu-se rapidamente.
Não resisti mais. As imagens não me atraíam mais que a curiosidade de descobrir o que havia por trás da porta. Me levantei da confortável poltrona onde sentado assistia às televisões e tentei correr. Notei que cada vez que me distanciava da poltrona meus pés pareciam estar mais fortemente colados ao chão. Ainda assim cheguei até a porta.
O som de pássaros que ouvi na verdade eram as vozes da imensa quantidade de crianças que estavam além da porta correndo sem parar de um lado a outro. Estavam todas em vestes brancas e tinham a mostra apenas a face.
Quando passavam muito perto de mim notei que cada uma falava repetidamente a mesma coisa. Umas contavam pequenas histórias, outras apenas repetiam a mesma palavra ou, simplesmente, emitiam sons.
Fui tomado pelo entusiasmo de ver tantas crianças ao mesmo tempo correndo para todos os lados como se estivessem dentro de um liquidificador e não me dei conta que deixei a porta escancarada ao adentrar neste ambiente pueril. Olhando para trás vi que muitas crianças fugiam para o ambiente de onde eu tinha saído, meu cativeiro. Corri para lá, de onde eu talvez nem devesse ter saído e fechei a porta.
No meu espaço vi que as crianças ainda corriam e pronunciavam, cada uma, seus repetitivos dizeres. Ao me virem pediram que eu falasse numa espécie de microfone, que estava perto das televisões, o que elas diziam. Temendo que aquela bagunça toda chamasse a atenção de alguém propus que falaria o que cada uma quisesse, mas que depois disso elas teriam que voltar para o lugar de onde vieram.
Proposta aceita pus-me a pronunciar o que me sopravam ao ouvido. A primeira criança me fez falar trem de estrelas. A segunda me pediu que repetisse "Já pensou se pudéssemos voar com asas de papel?", a terceira me pediu...
E assim seguiu-se. Ao pronunciar o que me pedia, cada criança voltava para o lugar de onde fugira. Uma a uma as crianças foram voltando.
Era bastante cansativo repetir tudo aquilo ao microfone. Cansativo ao ponto de cair adormecido. Acordei aos sustos com alguém me sacudindo e dizendo: Tá falando só, garoto?
Era minha mãe! Como ela tinha ido até o cativeiro? - pensei!
Não, não era mais o cativeiro! Estranhamente, estava em casa. Era minha cama, meu quarto e minha mãe!
Perguntei se ela tinha pago o resgate. Ela se virou e, saindo do quarto, respondeu que não sabia se eu falava mais bobagens dormindo ou acordado.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sobre Timbres

Timbre? É a identidade sonora do som. É assim: você pode escutar duas pessoas diferentes dizerem a mesma frase com mesmo ritmo e entonação, mas pelo timbre de voz de cada uma você saberá que em um momento você ouve uma pessoa e não a outra. Estendendo esse conceito a instrumentos musicais você reconheceria Brasileirinho sendo executado com flauta ou piano.

Peço licença agora pra falar do meu mundo de timbres. Eu, como guitarrista, sei da complexidade de se montar um timbre, ou seja, de montar a minha identidade sonora. Pode parecer simples, mas no equipamento do guitarrista existem inúmeros fatores que somados resultarão justamente nessa identidade. Guitarrista costuma usar o termo Cadeia de Sinal. O sinal original sai da guitarra através dos cabos e passa pelos pedais até chegar ao amplificador.

Olhando assim parece simples, mas dissecando o sinal vamos nos deparar com o seguinte: cada pequena parte do conjunto tem seu próprio timbre. Na cadeia eles se somam e o resultado final é o que ouvimos nas gravações e shows.
A seguir algumas das coisas que doam seu timbre por um timbre final maior:
  • As madeiras usadas na construção do instrumento (umas oferecem mais grave e médio, outras mais agudos, etc);
  • Captadores combinados ou não (existe um infinidade no mercado);
  • As cordas escolhidas (variam em material, espessura e contrução);
  • O modelo de corpo também tem timbre próprio;
  • O cabo que conduz o sinal (esses alteram o timbre se forem mais longos ou curtos e pelo material de suas partes. Alguns tem conectores de ouro, pra se ter uma idéia);
  • O amplificador também imprime sua personalidade ao timbre final (alguns tem mais grave e médio, outros soam mais agudos e médios, já outros somam uma distorção leve e outros tem características de entregar sons cristalinos).

Deixo claro que citei apenas algumas das coisas que alteram o timbre. Me arrisco a dizer que as possibilidades timbrísticas sejam infinitas. E ainda mais, ouvidos mais apurados sabem que um timbre é único. Pois mesmo sendo da mesma árvore, a madeira de duas guitarras idênticas não serão iguais porque, dentre outros fatores, a organização dos veios da madeira conduzirão a vibração para uma direção ou outra pelo corpo do instrumento.

Assim, se você quiser ter em mãos o timbre exato do seu maior ídolo lembre-se: é impossível. Alguns fabricantes escolhem endorsees, que são aquelas pessoas que recebem todo o apoio de uma determinada marca de euipamentos em troca de divulgar o nome dessa empresa. Essas pessoas são, contratualmente, obrigadas a usarem apenas aqueles específicos equipamentos e ajudar a desenvolvê-los. O passo seguinte é este mesmo fabricante disponibilizar no mercado a preços estrondosamente elevados esses equipamentos utilizados por tais artistas.

Na prática é o seguinte: Joãozinho se destacou como guitarrista na sua banda e esta se destaca em nacionalmente a níveis comercialmente interessantes. Daí um fabricante propõe a Joãozinho que ele use apenas as guitarras desta marca e Joãozinho o faz. Assim em todo material de divulgação Joãozinho aparecerá empunhando tal marca e o público que se identifica com Joãozinho desejará ter em casa aquele mesmo som que ouve em discos e shows. Nessa hora, a marca coloca no mercado a cópia idêntica desta guitarra. Isso se chama Signature Series (série assinatura, ou série assinada). Pronto!

Em casa, um ouvido mais apurado saberá que aquele não é o som exato do Joãozinho pois um fator importante é incopiável: a pegada. É o modo como Joãozinho ataca as cordas, cria solos, digita no braço da guitarra, etc.

Vou ficando por aqui para não alongar demais esta postagem! Em breve toco novamente nesse assunto!

Abração!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sempre em frente

Relacionando o momento histórico com os feitos das pessoas comuns que viviam aquele momento 80 me deparo com certas reflexões que tomam horas e horas de boas e divertidas sinapses. Por exemplo, fico pensando o que meus pais faziam antes de me convidar a esse mundo (tô falando beeeeeeem antes e não não o exato antes). Imagino quais eram suas frustrações, suas conquistas, seus cotidianos com as coisas que hoje são piada ou assuntos de livros retrô.
É super gostoso lembrar dos congas, do Pogobol, lango-lango, shampoo Colorama, da vida sem código de barras e sem celular... Porém relacionar isso com momentos históricos é bem mais interessante.

As bandas de Rock Brasileiro surgidas nessa época tinham uma coisa em comum: a grande novidade de terem saído de uma ditadura militar, as quais viveram como crianças ou adolescentes. Ou seja, viver um momento de extrema tensão e sem entender muita de coisa, a não ser palavras soltas que os adultos falassem ao seu redor, e de repente ouve-se "TÁ TUDO LIBERADO, GALERA!".

Nessa hora as canções de Belchior e Geraldo Vandré se tornam monumentos que remetem à algo no passado. Que venham Os Paralamas, As Abelhas, Os Engenheiros...
Nos movimentos anteriores às escolas de Rock 80, como Tropicália e Jovem Guarda, por exemplo, tudo era dito em códigos e com palavras medidas e verificadas ponto a ponto pelos militares. Agora não mais! As letras leves e descompromissadas em tom adolescente do Rock 80 mostram bem essa euforia da repentina liberdade. O desejo de um era comprar uma moto, do outro era "por que não eu?". Uns eram maiores abandonados e outros missionários de um mundo pagão.
Muito se fala que nos dias atuais será impossível repetir feitos do passado como o sucesso de vendas do Thriller.
Os dias são outros, as manias são outras e as paixões nem se fala. Nosso cérebro está se transformando veloz e drasticamente no entuito de tentar acompanhar tantas novidades simultâneas. Os bebês de hoje desenvolvem certas habilidades bem mais cedo que seus ancestrais. E assim continuarão em progressão geométrica as gerações vindouras.
Já pararam pra pensar na enorme quantidade de futuro que se converte a cada segundo em presente e, nas mesmas proporções, a quantidade de presente que se converte em passado enquanto fazem a leitura deste humilde blog?
É muito comum a frase "Não fazem mais ________ como antigamente". O triste é que pessoas se prendem ao passado como uma fuga de suas frustrações cotidianas. Só que mais triste ainda é ver pessoas simplesmente jogando pela janela do trem da vida o tempo de existência que lhes foi reservado quando adentraram esse mundo. Normalmente a ficha só cai pra essas pessoas quando não há mais tanto o que fazer para reparar tais enganos.
Por isso meus caros leitores, deixo aqui a mensagem: Vamos tomar conta dos nossos dias. Vamos tomar conta do nosso AGORA. No passado alguém já o fez, mas temo que o futuro seja deixado ao léu. Por mais que seja gostoso lembrar do A-Ha naquele Assustado do primeiro beijo as nossas vidas acontecem agora e só caminham para frente. Então, "vamos viver tudo o que há pra viver", mas sempre em frente. O passado pertence ao passado. Já o presente pertence a nós.
O sentido da vida?
Eu sei: é sempre em frente!
Até a próxima!

Quem escreve

Minha foto
Músico, Estudante de Engenharia.