quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sobrevoar sobre voar

E o antiquíssimo sonho humano de voar que fez erguer as mais diversas engenharias para não tocar o chão.

Não tocar o chão é se entregar aos amores e às paixões.

Que seja um breve salto de plena alegria ou que seja uma viagem além da velocidade da luz gerada por uma paixão...

Vã engenharia que não enxerga a nobre proeza de voar sem precisar valer-se de engrenagens.
Vã engenharia que desconsidera o amor.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre ser

Sem ser eu eu não consigo ser.
E pra ser eu é preciso ser, é preciso estar.
É preciso ver, tocar, cheirar...
É preciso, por fim, sentir.

Sentir frio é buscar conforto.
Sentir calor é sentir a vida fluir na direção em que todas as outras vidas fluem.

Sentir o chão é assinar o eterno contrato com a gravidade sem sequer ler suas cláusulas.
Já sentir o som de uma canção é ter toda uma atmosfera vibrando ao meu redor e, ainda mais, à meu favor. E isso é burlar o secular contrato cerrado com a gravidade.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Isabela e o mar

Em tempos de pesca era comum Isabela se perder em vistas pela vila. Tudo prendia a atenção de seu olhar. Aquela figura de pele morena e cabelos negros e longos que se misturavam ao vento contava muitas histórias. Falava de coisas que só se ouvia da boca dos viajantes. Falava de monstros e serpentes marinhas. Falava de tempestades que no mar faziam grandes embarcações se desfazerem como se fosse cascas de amendoim esturricadas pelo fogo excessivo. Vez por outra citava ainda um tal de Netuno, rei dos mares...
Ah, Isabela! Isabela e seus devaneios! Suas palavras iam mais longe que a imaginação de muitos do vila. Mesmo os mais velhos não se limitavam e falavam aos cochichos que Isabela enlouquecera depois que o velho marinheiro a deixou.

A ida do marinheiro significava mais que tudo um certo alívio para os pais de Isabela. Todos da vila comentavam: como pode a filha de tão bondoso pescador se deitar com um homem mais velho até que seu próprio pai?

Do marinheiro que partira há quase três anos com promessas de vida melhor para Isabela e, quiçá, o sossego definitivo de Nido, o cansado pai de Isabela, pois não teria mais que dar explicação aos bisbilhoteiros da vila, se sabia pouco e nunca mais se teve notícia. Alguns até questionavam a existência do marinheiro misterioso enquanto outros diziam já até ter dividido alguns tragos de aguardente.

Isabela quando perguntada sobre o marinheiro explicava que ele travava batalhas colossais com feras do mar e piratas sanguinários e que tão logo terminassem as batalhas ele voltaria para apanha-la e então se casarem. Silêncio se ouvia enquanto na presença de Isabela. Quando se afastava, era possível ouvir as gargalhadas. Isabela não se importava. Com ares de indiferença repetia para si mesma: Vão rindo enquanto se pode rir.

Os pais de Isabela, por outro lado, desmentiam a filha:

- Coisas de gente jovem! Não há de se dar ouvidos!

De fato Nido e sua esposa cogitavam se mudar dali. Já não havia mais fôlego para desfazer os ditos de Isabela. E a cada dia começavam a ter mais fé que Isabela realmente não estava tão bem da cabeça. Mas ir para onde? Na cidade seria mais fácil arranjar um tratamento para a filha, mas como iriam custear tudo com uma vida humilde de pescador? Temia uma vida miserável pelas ruas da cidade. E com razão!

- Maldito o dia em que esse marinheiro apareceu nessa praia – repetia Nido, contrariado.

Ione, sua esposa, tentava sem sucesso consolar Nido.

- Calma, homem! Um dia isso vai passar! Tudo passa, tudo passa...

- Passa quando, mulher? Quando eu for só carcaça na boca dos urubus?

Os dias se passavam e o outono avançava. Na vila nada mudava.

Certa vez os pescadores reunidos festejavam a volta para terra firme depois de meses pescando em alto mar. As esposas festejavam a volta dos maridos e os filhos as voltas de seus pais, tios, irmãos e primos. Lá também estavam Nido e Isabela. Ione já havia se retirado para casa. Nido e Ione se desentenderam porque ela havia dito que pressentia um mal que estava por vir e que seria ainda naquela noite e ele, já alcoolizado a tratou com grosseria.

- Deixa de histórias, mulher! Já não bastam as alucinações de Isabela, tu agora me vem com uma história dessas. Nem esta pinga que eu tomo me traz tal invenção!

Isabela, em meio às festividades, contava suas histórias para as crianças, os únicos seres que a levavam a sério naquela vila. Miravam fixamente e com tom de espanto Isabela enquanto ela proferia as histórias das serpentes marinhas, dos piratas e de como seu marinheiro e futuro marido se esquivava de tais perigos. Tão concentrada que estava nem notara a discussão de seus pais.

A hora avançava e pouco a pouco o público de Isabela ia se desfazendo. As crianças já caíam de sono e se entregavam aos braços de suas mães que as levavam para casa e por lá mesmo já ficavam. Pouco tempo depois Isabela era das poucas mulheres que ainda estavam lá. Alguns pescadores já estavam em suas camas. O som das altas gargalhadas era aos poucos substituído pelo repetitivo soar do vento e das ondas. Restavam na festa apenas os velhos e os bêbados desfalecidos ao chão. Isabela se afastou e foi então sentar-se na prainha. Se pôs a olhar o mar. Era como se procurasse em cada gota de água, em cada onda que quebrava, em cada som algo que pudesse revelar o paradeiro de seu grande amor.

Assustou-se ao ver aquela jovem e corpulenta figura masculina se sentar ao seu lado. Era Tião. O pescador mais jovem de toda a vila. Tinha músculos bem posicionados, cabelos e olhos tão escuros quanto a noite que tomava a prainha.

- Queria saber por que uma moça tão bonita como você não deixa o mar e cuida de viver sua vida na terra.

- Já eu queria saber por que você não deixa minha vida e vai cuidar da sua.

-Isabela, Isabela, Isabela – disse, Tião pausadamente - sempre Isabela. Quando vai perceber que o homem que vai satisfazer teu fogo de mulher sou eu?

-Tião, você sabe que entre eu e você não pode existir nada! Eu sou de outro homem!

Tião agora enfurecido e tomado pelo torpor alcoólico levantou-se e puxou bruscamente Isabela pelo braço.

- Realmente você está perdida nesses sonhos. Se ninguém da vila acredita nas loucuras que fala não vão acreditar em mais nada do que você disser. Se não vai por bem...

Tião rasgou o fino tecido da roupa de Isabela e num piscar de olhos ela estava nua e assustada. Protegia com mãos e braços sua nudez. O medo se estampava no seu rosto moreno

-Tião, o que você pensa que vai fazer?

- Agora eu não penso em nada, só faço! Quem muito pensa pouco faz!

Ali mesmo Tião dominou Isabela. A nudez de Tião ia de encontro à de Isabela, sua então prisioneira. Isabela, em pânico gritava e se debatia. De nada adiantava. Era uma criança lutando contra um faminto leopardo e seus gritos não poderiam ser ouvidos pelos bebâdos. Notando seu fracasso em lutar, Isabela, olhou bem dentro dos olhos de seu agressor e falou:

- Agora que estou indefesa você me tem! Mas um dia eu terei de volta essa noite em que você me roubou de meu futuro marido! Ele vê o que você me faz, ele vê!

Tamanha a seriedade com que Isabela pronunciava tais palavras que mais pareciam maldição. Tião quedou-se impressionado. Pescador jovem, porém experiente, já escutara diversas histórias de monstros marinhos. Não chegava a dar os devidos créditos às tais histórias. Ria ao final de cada uma delas, mas no fundo ele se impressionava. Se pegava pensando em como essas histórias poderiam ser apenas criação do homem.

Isabela parou de se movimentar e debater. Falou:

- Aconselho que aproveite este momento, bravo Tião! Lembre-se de cada centímetro que me invade com sua virilidade. Lembre-se, Tião, lembre-se. Lembre-se porque esta será a última noite que possuirá uma mulher.

Isabela caiu numa gargalhada que era bem mais potente que seus gritos. Agora sim Tião se assustou. No rosto de Isabela não havia mais cor. Aquela pele morena, queimada de sol estava quase transparente. Tião vestiu-se ao notar que Isabela estava desacordada e correu assustado. O sol estava por nascer.

Já era quase dez da manhã quando Rosa alcançou esbaforida a porta de Nido. Ainda sob o efeito do álcool da noite anterior, Nido só pensava em pedir para Rosa parar de gritar e falar o que lhe assutava.

- É Isabela! Uma tragédia! O vestido, o vestido e... sangue! Na prainha...

Com o susto Nido se livrou do álcool que ainda corria por suas veias. Segurando Rosa pelos ombros sacudiu-a.

- O que tem Isabela? Responde! Ela não veio pra casa?

Virou-se para Ione que estava sentada na cozinha olhando para o nada, pela janela que dava para a prainha. Largou Rosa e foi em direção de Ione.

- Vai ficar aí parada, Ione? Cadê nossa filha? Cadê Isabela?

Ione ainda olhava fixo pela janela.

-Aconteceu, Nido! Aconteceu!

Ione se limitou a essas poucas palavras.

- O que aconteceu, mulher? Do que você tá falando? É de Isabela? O que aconteceu com Isabela?

Como Ione se emudeceu, dirigiu-se a Rosa.

- Fala mulher!

- O pessoal achou lá na prainha o vestido que Isabela usava ontem à noite na festa. Tava rasgado e sujo de sangue.

- E onde tá Isabela?

- Ninguém sabe! E tem também pegadas que saem do vestido e vão até o mar... Parecem pegadas de um homem forte e pesado porque são grandes e profundas.

Nido cai em desespero.

- Vou reunir toda a vila pra ir atrás de Isabela e depois...

Interrompe Rosa:

- Ir atrás de Isabela e de Tião, que também ninguém sabe do paradeiro dele.

Nido parou em si, fixou o olhar no infinito. Lia-se claramente nos olhos dele a palavra desespero. Saiu atordoado pela porta sem emitir som que se entendesse.

Aos Pares

Era um par, um casal ao luar.
Dois que se tornam um, ainda que sendo dois, ainda que sendo pares.

Um par de mãos que me convidam a ser.
Um outro par preparava aos seios, um outro par.
Um par que nutre, um par que banha.
Aos cabelos um par de mãos suaves.

O mesmo par que confia aos cuidados do saber.
Minhas mãos às mãos de quem me guia ao viver.
Muitos pares e me deparo com o crescer.

Agora minhas mãos! Meus próprios pares que se vestem para lutar!
O mesmo par que me alimenta e me transpõe à dormir e acordar.
Os dias, os anos, tudo agora vem aos pares.

Nesta hora são os olhos, os pares que miram outros pares.
Era um par, um casal ao luar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um sonho, um sonho

Assaltado e sequestrado por figuras estranhas fui levado ao cativeiro.
Juro, me trataram muito bem! O cativeiro não sei bem o que era ou como era. Não sei sequer como conseguiram acertar, mas era tudo muito familiar. Era uma sala ampla a perder de vista.
Havia duas televisões onde só passavam os filmes que eu já tinha visto e, como protagonista, sempre o mesmo ator, que também era demasiado familiar.
Frente a frente, uma a minha esquerda e outra a minha direita, duas caixas de som nas quais ora reproduziam-se os sons dos filmes exibidos nas televisões, ora reproduziam vozes pronunciando frases desconexas de sentido. Eram, porém, sons também familiares como a voz dos meus pais, de alguns amigos e o mais assustador, por vezes jurava escutar minha própria voz...
Olhando todo aquele amplo espaço em volta de mim descobri uma porta entre-aberta. Hesitante em ser repreendido por meus sequestradores caminhei timidamente até a porta. Eram uma luz forte e um som embaralhado como pássaros ao cair da tarde que quanto mais próximo da porta mais forte ficava. Amedrontado, recuei! Os sequestradores podiam entrar na sala a quaquer momento e a situação piorar para mim. Fiquei com a televisão.
A curiosidade maior que tudo me fez ver uma criança botando a cabeça pra fora da porta e me observando. Quando mirei a porta a criança recolheu-se rapidamente.
Não resisti mais. As imagens não me atraíam mais que a curiosidade de descobrir o que havia por trás da porta. Me levantei da confortável poltrona onde sentado assistia às televisões e tentei correr. Notei que cada vez que me distanciava da poltrona meus pés pareciam estar mais fortemente colados ao chão. Ainda assim cheguei até a porta.
O som de pássaros que ouvi na verdade eram as vozes da imensa quantidade de crianças que estavam além da porta correndo sem parar de um lado a outro. Estavam todas em vestes brancas e tinham a mostra apenas a face.
Quando passavam muito perto de mim notei que cada uma falava repetidamente a mesma coisa. Umas contavam pequenas histórias, outras apenas repetiam a mesma palavra ou, simplesmente, emitiam sons.
Fui tomado pelo entusiasmo de ver tantas crianças ao mesmo tempo correndo para todos os lados como se estivessem dentro de um liquidificador e não me dei conta que deixei a porta escancarada ao adentrar neste ambiente pueril. Olhando para trás vi que muitas crianças fugiam para o ambiente de onde eu tinha saído, meu cativeiro. Corri para lá, de onde eu talvez nem devesse ter saído e fechei a porta.
No meu espaço vi que as crianças ainda corriam e pronunciavam, cada uma, seus repetitivos dizeres. Ao me virem pediram que eu falasse numa espécie de microfone, que estava perto das televisões, o que elas diziam. Temendo que aquela bagunça toda chamasse a atenção de alguém propus que falaria o que cada uma quisesse, mas que depois disso elas teriam que voltar para o lugar de onde vieram.
Proposta aceita pus-me a pronunciar o que me sopravam ao ouvido. A primeira criança me fez falar trem de estrelas. A segunda me pediu que repetisse "Já pensou se pudéssemos voar com asas de papel?", a terceira me pediu...
E assim seguiu-se. Ao pronunciar o que me pedia, cada criança voltava para o lugar de onde fugira. Uma a uma as crianças foram voltando.
Era bastante cansativo repetir tudo aquilo ao microfone. Cansativo ao ponto de cair adormecido. Acordei aos sustos com alguém me sacudindo e dizendo: Tá falando só, garoto?
Era minha mãe! Como ela tinha ido até o cativeiro? - pensei!
Não, não era mais o cativeiro! Estranhamente, estava em casa. Era minha cama, meu quarto e minha mãe!
Perguntei se ela tinha pago o resgate. Ela se virou e, saindo do quarto, respondeu que não sabia se eu falava mais bobagens dormindo ou acordado.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sobre Timbres

Timbre? É a identidade sonora do som. É assim: você pode escutar duas pessoas diferentes dizerem a mesma frase com mesmo ritmo e entonação, mas pelo timbre de voz de cada uma você saberá que em um momento você ouve uma pessoa e não a outra. Estendendo esse conceito a instrumentos musicais você reconheceria Brasileirinho sendo executado com flauta ou piano.

Peço licença agora pra falar do meu mundo de timbres. Eu, como guitarrista, sei da complexidade de se montar um timbre, ou seja, de montar a minha identidade sonora. Pode parecer simples, mas no equipamento do guitarrista existem inúmeros fatores que somados resultarão justamente nessa identidade. Guitarrista costuma usar o termo Cadeia de Sinal. O sinal original sai da guitarra através dos cabos e passa pelos pedais até chegar ao amplificador.

Olhando assim parece simples, mas dissecando o sinal vamos nos deparar com o seguinte: cada pequena parte do conjunto tem seu próprio timbre. Na cadeia eles se somam e o resultado final é o que ouvimos nas gravações e shows.
A seguir algumas das coisas que doam seu timbre por um timbre final maior:
  • As madeiras usadas na construção do instrumento (umas oferecem mais grave e médio, outras mais agudos, etc);
  • Captadores combinados ou não (existe um infinidade no mercado);
  • As cordas escolhidas (variam em material, espessura e contrução);
  • O modelo de corpo também tem timbre próprio;
  • O cabo que conduz o sinal (esses alteram o timbre se forem mais longos ou curtos e pelo material de suas partes. Alguns tem conectores de ouro, pra se ter uma idéia);
  • O amplificador também imprime sua personalidade ao timbre final (alguns tem mais grave e médio, outros soam mais agudos e médios, já outros somam uma distorção leve e outros tem características de entregar sons cristalinos).

Deixo claro que citei apenas algumas das coisas que alteram o timbre. Me arrisco a dizer que as possibilidades timbrísticas sejam infinitas. E ainda mais, ouvidos mais apurados sabem que um timbre é único. Pois mesmo sendo da mesma árvore, a madeira de duas guitarras idênticas não serão iguais porque, dentre outros fatores, a organização dos veios da madeira conduzirão a vibração para uma direção ou outra pelo corpo do instrumento.

Assim, se você quiser ter em mãos o timbre exato do seu maior ídolo lembre-se: é impossível. Alguns fabricantes escolhem endorsees, que são aquelas pessoas que recebem todo o apoio de uma determinada marca de euipamentos em troca de divulgar o nome dessa empresa. Essas pessoas são, contratualmente, obrigadas a usarem apenas aqueles específicos equipamentos e ajudar a desenvolvê-los. O passo seguinte é este mesmo fabricante disponibilizar no mercado a preços estrondosamente elevados esses equipamentos utilizados por tais artistas.

Na prática é o seguinte: Joãozinho se destacou como guitarrista na sua banda e esta se destaca em nacionalmente a níveis comercialmente interessantes. Daí um fabricante propõe a Joãozinho que ele use apenas as guitarras desta marca e Joãozinho o faz. Assim em todo material de divulgação Joãozinho aparecerá empunhando tal marca e o público que se identifica com Joãozinho desejará ter em casa aquele mesmo som que ouve em discos e shows. Nessa hora, a marca coloca no mercado a cópia idêntica desta guitarra. Isso se chama Signature Series (série assinatura, ou série assinada). Pronto!

Em casa, um ouvido mais apurado saberá que aquele não é o som exato do Joãozinho pois um fator importante é incopiável: a pegada. É o modo como Joãozinho ataca as cordas, cria solos, digita no braço da guitarra, etc.

Vou ficando por aqui para não alongar demais esta postagem! Em breve toco novamente nesse assunto!

Abração!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sempre em frente

Relacionando o momento histórico com os feitos das pessoas comuns que viviam aquele momento 80 me deparo com certas reflexões que tomam horas e horas de boas e divertidas sinapses. Por exemplo, fico pensando o que meus pais faziam antes de me convidar a esse mundo (tô falando beeeeeeem antes e não não o exato antes). Imagino quais eram suas frustrações, suas conquistas, seus cotidianos com as coisas que hoje são piada ou assuntos de livros retrô.
É super gostoso lembrar dos congas, do Pogobol, lango-lango, shampoo Colorama, da vida sem código de barras e sem celular... Porém relacionar isso com momentos históricos é bem mais interessante.

As bandas de Rock Brasileiro surgidas nessa época tinham uma coisa em comum: a grande novidade de terem saído de uma ditadura militar, as quais viveram como crianças ou adolescentes. Ou seja, viver um momento de extrema tensão e sem entender muita de coisa, a não ser palavras soltas que os adultos falassem ao seu redor, e de repente ouve-se "TÁ TUDO LIBERADO, GALERA!".

Nessa hora as canções de Belchior e Geraldo Vandré se tornam monumentos que remetem à algo no passado. Que venham Os Paralamas, As Abelhas, Os Engenheiros...
Nos movimentos anteriores às escolas de Rock 80, como Tropicália e Jovem Guarda, por exemplo, tudo era dito em códigos e com palavras medidas e verificadas ponto a ponto pelos militares. Agora não mais! As letras leves e descompromissadas em tom adolescente do Rock 80 mostram bem essa euforia da repentina liberdade. O desejo de um era comprar uma moto, do outro era "por que não eu?". Uns eram maiores abandonados e outros missionários de um mundo pagão.
Muito se fala que nos dias atuais será impossível repetir feitos do passado como o sucesso de vendas do Thriller.
Os dias são outros, as manias são outras e as paixões nem se fala. Nosso cérebro está se transformando veloz e drasticamente no entuito de tentar acompanhar tantas novidades simultâneas. Os bebês de hoje desenvolvem certas habilidades bem mais cedo que seus ancestrais. E assim continuarão em progressão geométrica as gerações vindouras.
Já pararam pra pensar na enorme quantidade de futuro que se converte a cada segundo em presente e, nas mesmas proporções, a quantidade de presente que se converte em passado enquanto fazem a leitura deste humilde blog?
É muito comum a frase "Não fazem mais ________ como antigamente". O triste é que pessoas se prendem ao passado como uma fuga de suas frustrações cotidianas. Só que mais triste ainda é ver pessoas simplesmente jogando pela janela do trem da vida o tempo de existência que lhes foi reservado quando adentraram esse mundo. Normalmente a ficha só cai pra essas pessoas quando não há mais tanto o que fazer para reparar tais enganos.
Por isso meus caros leitores, deixo aqui a mensagem: Vamos tomar conta dos nossos dias. Vamos tomar conta do nosso AGORA. No passado alguém já o fez, mas temo que o futuro seja deixado ao léu. Por mais que seja gostoso lembrar do A-Ha naquele Assustado do primeiro beijo as nossas vidas acontecem agora e só caminham para frente. Então, "vamos viver tudo o que há pra viver", mas sempre em frente. O passado pertence ao passado. Já o presente pertence a nós.
O sentido da vida?
Eu sei: é sempre em frente!
Até a próxima!

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Músico, Estudante de Engenharia.